História

A origem do IEE é anterior à fundação da USP e remonta à criação, em 1902, do Gabinete de Física Industrial e Eletrotécnica, por solicitação do diretor da Escola Politécnica de São Paulo (EPSP, historicamente conhecida como “Poli”) ao Secretário de Estado dos Negócios do Interior e da Justiça. Gabinete era o sinônimo então empregado para denominar os laboratórios onde ocorriam as aulas práticas e as aulas ali ministradas eram, nesta fase, comuns a todos os cursos da Engenharia. Em 1912, após a criação do curso de “Engenheiros Mecânicos-Eletricistas”, no ano anterior,  foi organizado como laboratório específico, o Gabinete de Eletrotécnica, e passou a atender  apenas às exigências curriculares do novo curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica.

Em 1926, o Gabinete foi ampliado e teve sua denominação alterada para Laboratório de Máquinas e Eletrotécnica, primeiro laboratório oficial brasileiro de ensaios de padronização e qualificação para equipamentos capaz de atender a demanda da Indústria. Em 1927, emitiu seu primeiro laudo técnico oficial, relativo ao aquecedor de água “Electro Thermo Brasileiro”, uma espécie de chuveiro.  Em 1931, passou à denominação de Laboratório de Eletrotécnica e suas atividades eram eminentemente voltadas à prestação de serviços, embora continuasse a abrigar as aulas práticas para o curso de Engenharia.

Em resposta às dificuldades de importação de equipamentos durante a II Guerra Mundial (1939-1945) e a consequente demanda pelo desenvolvimento da indústria nacional, em 1940, por meio de decreto assinado por Adhemar de Barros, interventor do Estado de São Paulo, a USP e a Escola Politécnica (então já incorporada à Universidade) convertem o Laboratório de Eletrotécnica em Instituto de Eletrotécnica (IE), anexo à Poli. Nesse período, como parte do esforço de guerra, integrou o grupo de departamentos (Física, Química, Mineralogia) e unidades (IPT) da USP que desenvolveu, construiu e reparou sonares, entregues à Marinha, destinados a detectar e afastar os U-boats alemães do litoral brasileiro. Seus objetivos eram à época:

•Ministrar as aulas de laboratório dos cursos da Escola Politécnica;
•Proporcionar, por meio de estágios e cursos, oportunidades de aperfeiçoamento em Eletrotécnica a engenheiros diplomados;
•Desempenhar a função de laboratório estadual de ensaios de máquinas e aparelhos elétricos;
•Colaborar com as repartições públicas na elaboração de normas e regulamentos de interesse da indústria elétrica;
•Executar ensaios solicitados por entidades públicas e particulares; realizar pesquisas de caráter técnico.

Na década de 1950, o crescimento acelerado da economia, a construção de Brasília, e os fortes investimentos em infraestrutura (criação da Petrobras, expansão das ferrovias etc.), dão novo impulso à indústria, criando novas demandas para o IE, que amplia suas instalações para fazer frente aos novos desafios. Em 1951, estas instalações foram pioneiras na implantação do Campus da USP, no Butantã, com a construção do Pavilhão de Alta Tensão, fundamental para a nacionalização da indústria elétrica no Brasil e ainda em atividade. Em 1966, o Instituto foi reconhecido pelo Governo do Estado como unidade autônoma, um Instituto Especializado, e separado administrativamente da Poli, passando a subordinar-se à Reitoria da USP. O vínculo, porém, se manteve através da presidência de seu Conselho Administrativo, exercida, à época, pelo Diretor daquela escola.

Na década de 1970, o Brasil seria gravemente afetado pelas crises do petróleo, que resultaram na recessão e hiperinflação dos anos 1980. A crise repercute no Instituto que, sem recursos suficientes (tanto humanos como materiais), abandona as atividades de pesquisa e já não consegue atender às demandas de ensaios elétricos das grandes indústrias, limitando-se a realizar ensaios de rotina para pequenas e médias empresas e ministrar os cursos de extensão.

Em 1986, em consequência da penetração massiva das indústrias multinacionais na área de tecnologia elétrica, que contavam com laboratórios próprios em suas matrizes, as demandas tecnológicas do IE foram reduzidas, abrindo a possibilidade de transformá-lo no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE). O novo Instituto foi reestruturado afim de reconfigurar seu escopo de atuação, passando a ser um dos Institutos Especializados da Universidade de São Paulo. No mesmo período, a sede do IEE foi mudada do centro de São Paulo para o campus Butantã da USP, onde já se encontrava o Pavilhão de Alta Tensão. Desde então o IEE passou a realizar um conjunto de atividades de apoio à indústria, relativas ao desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, abrangendo a realização de ensaios de equipamentos elétricos (incluindo altas tensões, altas correntes, atmosferas explosivas, materiais); aplicações médico-hospitalares; calibração de equipamentos; emissão de certificados, pareceres, laudos técnicos e certificação de produtos. Além de atuar na formação de pessoal especializado através de cursos de extensão universitária (especialização, aperfeiçoamento, atualização e difusão) e estágios para alunos de cursos técnico-profissionalizantes e de graduação.

Em 1989, a USP criou um conjunto de programas interdisciplinares de pós-graduação, como resposta às crises dos recursos naturais, da energia e a emergente percepção das questões ambientais, entre os quais o PPGE (Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia), sediado no IEE, e o PROCAM (Programa de Ciência Ambiental), sediado no prédio das Colmeias.

O PPGE é gerido pelo IEE desde o seu início e, até 2013, esta gestão era exercida em parceria com a Escola Politécnica (EP), o Instituto de Física (IF) e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), período em que foi um programa interunidades. O Programa busca formar pesquisadores voltados às questões que concernem à disponibilidade de energia, seus usos e impactos sobre a sociedade e o ambiente, e conta com quatro linhas de pesquisa:

•Energia e meio ambiente;
•Energia e sociedade: análise econômica, histórica, política e institucional dos sistemas energéticos;
•Fontes renováveis de energia;
•Planejamento de recursos: oferta, demanda e qualidade de energia.

 O PROCAM, inicialmente vinculado à Reitoria da USP, passou para a gestão do IEE em 2008, mudando suas instalações para o espaço físico do Instituto, o que representou um marco na consolidação desta parceria. Seu escopo visa fornecer aos pesquisadores a possibilidade de investigar novas referências de análise e entendimento dos processos socioambientais, usando distintas abordagens científicas. Os trabalhos podem ser desenvolvidos a partir de seis linhas de pesquisa:

•Conservação e desenvolvimento socioambiental – com as sublinhas políticas públicas e conservação ambiental;
•Ambiente, cultura e participação social;
•Economia ecológica e aspectos ambientais das questões energéticas;
•Gestão, impacto e modelagem socioambiental – com as sublinhas impacto ambiental, saúde e planejamento urbano;
•Gestão integrada e modelagem socioambiental;
•Mudanças climáticas, políticas públicas e convenções internacionais.

Em 2013, o IEE altera seu nome para Instituto de Energia e Ambiente (IEE), como culminação de uma reestruturação acadêmica e administrativa, que teve como resultados, entre outros, a aprovação de um novo organograma, a assunção da Presidência de seus Conselhos Deliberativo e Técnico Administrativo e o estabelecimento de uma CPG (Comissão de Pós-Graduação) própria, abrangendo as CCPs (Comissões Coordenadoras de Programas) do PPGE e do PROCAM.  A nova configuração busca ampliar o escopo do ensino, da pesquisa e extensão, visando à consolidação do IEE como um centro de referência em energia e ambiente no Brasil, à altura dos mais reputados modelos nacionais e internacionais, no que tange ao desenvolvimento de pesquisa pioneira, formação de profissionais e também no atendimento às demandas da sociedade.

Referências:

ZANONI CONSTANT CARNEIRO LEÃO, Igor. Nação, tecnologia e trabalho no Brasil: 1889 ­– 1945. Revista Economia & Tecnologia (RET), São Paulo, vol. 8, nº 4, pág. 45-56, out/dez 2012.

MOTOYAMA, Shozo. A Gênese do CNPq. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, São Paulo, nº 2,1985.

MAGALHÃES, Gildo. Energia e tecnologia. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, vol. 6, nº 1-2, pág. 52 – 56, jan/jun 1992

SOUZA, Ana Claudia. Os gabinetes e laboratórios da Escola Politécnica de São Paulo: espaços para a construção do conhecimento. Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 20018. Cd-Rom.

SÁVIO, Marco Antônio C. As guerras de Minerva: a Revista Politécnica e a construção de uma  ideia de ciência em São Paulo, 1904-1917. História Ciência e Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 20, suplemento, pág. 1315 – 1332, nov 2013

COSTA DIAS, José Luiz P. da e CARDOSO, José Roberto. Os 120 anos da Escola Politécnica de São Paulo: mil razões para comemorar. Brasil Engenharia, São Paulo, nº 618, pág. 84 – 89, 2014

NAKATA, Vera (org.) Escola Politécnica USP : 120 anos. São Paulo, vol 1, Riemma Editora, 2013.